sexta-feira, 20 de maio de 2011

Porque a cadela é a D. Rizette?


Porque a cadela é a D. Rizette?

No tempo das cegadas os homens de Cabanelas iam para a serra cegar o trigo. Um ano a dona da casa onde estavam a trabalhar tratava mal o pessoal. O que é que eles se lembraram? De contar a seguinte História:

Na nossa terra há uma senhora, muito “boa”assim como a nossa ama que se chama D. Rizette é mesmo igual à nossa ama….

O meu Pai fartou-se de fazer e pagar curativos das “festas “ que a D. Rizette fazia às pessoas que iam lá a casa e que ela não conhecia 

ASSIM SE FAZEM AS HISTÓRIAS!


Voltando ao patim


Voltando ao Patim:

Depois da morte da Avó Constança ocorrida em Novembro de 1929 a família reuniu-se em Cabanelas e aqui está uma fotografia em que da direita para a esquerda se vê , Tio Eduardo Tia Alexandrina , Tia Maria , sentado no chão Tio Zé,Maria Eduarda , Maria Luísa comigo ao colo(quando vi a fotografia pela primeira vez me pareceu um leitãozinho ,ao que eu cheguei  ) o meu Pai com a Luié ao colo e ao lado a Maria Isabel.

Como não podia deixar de ser a cadela D. Rizette na frente do meu Pai

Ti Manuel Luciano



O Ti Manuel Luciano:

O Ti Manuel Luciano era o feitor lá de casa desde o tempo da avó Constança. Não sabia ler nem escrever. Para anotar quilos de azeitona ou razões de cereal era com risquinhos, mas no fim batia tudo certo.

Quando eu nasci e os meus Pais me trouxeram cá para cima o ti Manuel Luciano, foi ver a menina, (que era esta velhota que está a escrever) e quando lhe perguntavam por mim, ele respondia “não vai longe, as perninhas são como os meus dedos só têm os olhos a mexir a mexir”

Já estou nos 81 e os olhos ainda estão a mexir a mexir, Graças a Deus


A vinha e o vinho

A Vinha e o Vinho:



Antigamente também tínhamos vinhas e portanto vinho. A vinha maior era na Cruz onde hoje está o olival novo. No lameiro onde tenho os freixos as castas eram só moscatel, para consumo e fazer um vinho tratado muito bom. Para mim o melhor vinho de consumo era o do meu Pai. Não façam caso, orgulho de filha

O Pai também fazia um vinho a” arremedar “ Champanhe, que a rolha até saltava e tudo, era de estalo. Um Amigo do meu Pai chamava-lhe” Champrana” .

Morreu o meu Pai, morreram as vinhas e tudo acabou. Restam as recordações das boas “Pingoletas” que o meu Pai (João das Barbas) fazia

A apanha da azeitona

A apanha de azeitona:



Era uma festa! Vinte ou trinta pessoas entre homens e mulheres. Ainda estava muito longe o tempo das máquinas, por isso a apanha era com varas e lonas. A azeitona era metida em sacas de serapilheira e à noite vinha para casa em carros de bois. O Pai e eu ao fim do dia íamos para a janela da cozinha, para sentir o chiar dos carros de bois e assim sabermos pouco mais ou menos a azeitona que se tinha apanhado naquele dia. Pela manhã do dia seguinte o Pai ia pesar as sacas carregadas de azeitona, para estarem prontas para seguirem para o comprador.

Antigamente principiávamos a campanha no dia 26 de Dezembro e ia até Fevereiro ou mais. Todos os dias pela manhã o pessoal juntava-se lá em casa. Antes de partir para o trabalho e como o tempo era incerto discutiam se haviam de ir ou não. Um dia estavam nesta discussão e um afilhado dos meus Pais disse “se xuber é auga se num xuber pouca há-de ser” . E assim partiram Não sei se” Xubeu” ou não

Tia Valfreixa

A Tia Valfreixa:

A Tia Valfreixo era um monumento, uma instituição ou o que lhe queiram chamar. Para mim era a minha Rica Tia Valfreixo. Não tenho palavras para a descrever, mas com grande ousadia e maior amizade vou tentar. Era a única pessoa a quem a minha Mãe deixava que me tirassem do berço, e diga-se de passagem que em Cabanelas era a gaveta de uma cómoda que ainda hoje tenho. 

O pouco que tinha distribuía pelos que ainda eram mais pobres que Ela. Se tinha um queijo e se estavam três ou quatro pessoas em casa partia o queijo em três ou quatro partes. Do pouco fazia muito.

O meu Pai e Ela eram da mesma idade e estavam sempre pegados o que me divertia imenso

Pegavam-se porque o meu Pai dizia que é preciso poupar eaTia Valfreixa dizia que poupava, nascendo assim uma discussão que só tinha fim depois de por várias vezes se mandarem calar um ao outro, e o lenço de cabeça da Tia Valfreixa ir parar ao meio do chão. Ficavam dias sem se falar, levando eu os recados de um para o outro Era a única pessoa que mandava calar o meu Pai, Tinham brincado juntos, e o marido da Tia Valfreixa muito mais velho que ela foi sempre um dos lavradores lá de casa, desde o tempo do meu Avô que morreu em 1910, por isso a Tia Valfreixa  já fazia parte da casa e da família .

Pessoas destas já não há!!!!!!

Que saudades!!

Esta é a minha homenagem à minha rica Tia Valfreixa.  Tenho pena de não saber fazer melhor, mas é feita com muita amizade e muita saudade De lá onde estiver, e me esteja ver um beijo muito grande para si da sua

Constancinha







Noite de Reis

A Noite de Reis



Nessa noite todo o pessoal da casa ia lá cantar os Reis. A Tia Valfreixa estava toda a tarde a fazer os fritos e julgo que aletria também. Depois dos Reis cantados à porta da cozinha entravam, petiscavam e todos se arrumavam à volta da lareira onde ardia outro grande “canhoto”.  Todos nos calávamos inclusive o meu Pai. O Ti Chico Paço era o “Rei “ da noite!

Principiava a representar os “AITOS” em monólogo. Quando mudava o personagem batia palmas e dizia; agora entra ………..  e voltava a representar.   Assim se passava a noite de Reis. Estes “aitos” estavam escritos num livro a que chamavam CASCOS que na minha aldeia desapareceu “O vento o levou”assim acabando a tradição e o saber dos mais antigos

Natal 2

Outra vez o Natal em Cabanelas:





O Natal naquela cozinha tinha qualquer coisa de “mágico”. Não era só o que se via, mas para mim era mais o que se não via, mas o que se sentia.

O “canhoto” não aquecia só a cozinha, mas a mim aquecia-me mais a alma ao ver que estávamos todos FELIZES. As três crianças muito pentiadinhas e arranjadinhas portavam-se como adultos. As travessas esvaziavam-se e enchiam-se rapidamente a caneca do vinho a mesma coisa (mas sem abusos) e o Filipe quando lhe perguntavam se queria mais respondia “BOTA COMER É AQUI QUE NA ESTALAGE É UM ROUBO.

Julgo que estávamos todos tão felizes tão felizes que foram os melhores Natais da minha vida ao ver tanta felicidade à minha volta

Natal em Cabanelas

O Natal em Cabanelas



Foi nesta cozinha onde passei os melhores Natais da minha vida.

Éramos alguns, não muitos mas os mais chegados e amigos. O Ti Bernardo com a sua Mulher, a minha rica Tia Valfreixo (de quem irei falar noutra Historia), a Teresa sua filha, e os dois netos, a” Dozinda”e o” Zaquiel”. O Zé” Estanqueiro”a Isabel mais o António. Finalmente a Ti Helena com os filhos, o João a Zulmira e o Filipe, marido desta, o meu Pai e eu

A Tia Valfreixo e eu principiávamos cedo a fazer a ceia que era o fiel amigo com todos , não esquecendo as “rabas” , arroz de polvo , polvo frito , pataniscas de bacalhau ou bolos de bacalhau tudo acompanhado com um tintol muito bom, colheita da casa ,e para adoçar o bico e acompanhar os doces, para as mulheres jeropiga e para os homens agua ardente feita no alambique que havia lá em casa. Para rematar, desde de manhã estava a arder um grande um”canhoto” que aquecia os 43m2 da cozinha, e assim se passava o resto da noite a ouvir e contar histórias.